Os meus espectáculos são difíceis. Não tenho medo de afirmar isto. Não sou nenhum monstro que tenha mergulhado num caldeirão de genialidade em pequeno e não acho que sejam difíceis por qualquer incapacidade do público. Os meus espectáculos são difíceis porque se encontram ainda na fase embrionária da procura da forma. Gosto de experimentar limites. Para mim o teatro é o espaço onde me é permitido experimentar todos os limites de mim mesmo. O teatro é um produto de sensibilidades. Não acho que a forma que procuro seja de um exibicionismo intelectual exacerbado. Mas também não quero procurar formas que passem pelo mero agrado do espectador. É perfeitamente normal que eu faça maus espectáculos, todos os que se colocam em causa correm esse risco. Um dia descobrirei a forma justa. Quando a descobrir... o mais provável é fugir-lhe. A arte nunca será aquilo que a cultura reclama. A arte servirá sempre para abrir brechas no pensamento do mundo geral. Acredito nisto com todas as minhas forças. Este espectáculo nasceu de uma estranha necessidade de escrever carne. Escrever carne com a consciência do ritmo da carne e dos objectivos da carne. O que é um actor? O que é um actor para além desse grau máximo da passagem? Desse ponto absoluto da visibilidade mais intensa e nervosa de todas? O que é um actor sem risco? Quando me sentei para o escrever ainda não sabia para onde caminhava esta mulher, fui-a descobrindo enquanto me ia descobrindo a mim nela, mas isto não é um texto autobiográfico, se é que os há que não o sejam. Este texto é, para mim, a minha maior vitória literária. Depois de um livro que amaldiçoei pela inocência atroz das suas palavras e pela forma inconsequente que mais tarde assumiu na minha vida. Cada vez gosto mais disto. Adoro o teatro. Adoro o universo do teatro. Adoro este trabalho na linha do problema. Adoro actores. Os actores são surpreendentes. São monstros surpreendentes. Alimentam-se de sentidos. Adoro esta actriz. Que espectáculo é este? É uma partilha total com o público. Sempre tive vontade que fosse quase pornográfico ao nível da exposição. É um espectáculo fácil de destruir, quem procurar-lhe as falhas vai descobrir uma fragilidade que é a sua principal característica. Este espectáculo marca também uma fase super importante do meu regresso a isto, o teatro é a minha casa, o trabalho é para os que o têm, o teatro é uma casa que se carrega às costas. Não me interessa que o público goste ou não deste espectáculo, ele é de tal forma verdadeiro que não pode estar sujeito à questão do gosto. Interessa-me que seja apreciado por possuir uma ideia, por ser um esboço de uma possibilidade máxima, por ser um risco assumido. A verdade é simples: fazer espectáculos fáceis é fácil. Outra verdade é que andamos aqui para aprender. Não quero que gostem do espectáculo. Quero que o levem para casa, quero que o carreguem para a vida. Se não conseguir isso... compreendam apenas que o meu objectivo é fazer espectáculos absolutos e perdoem-me a tentativa. O teatro não poderá nunca deixar de lutar contra o seu maior inimigo, a indiferença. Que a felicidade nos visite a todos.
Pedro Fiúza
Texto e Encenação: Pedro Fiúza
Interpretação: Cristiana Castro
Iluminação: Flávio Freitas
Sonoplastia: Luis Ternos
Bilhete Normal: 4€
Cartão Jovem e Estudantes: 2€
Cartão Moagem: Gratuito
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